segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

ESSA É BRINCADEIRA VIU


14/01/2013 15h48 - Atualizado em 14/01/2013 16h16

Brasil Afora: Petrolina lida com greve, bolas furadas e dívida com açougue

Sem salários há três meses, jogadores que ficaram fazem bicos para sustentar a família. Novo treinador tem que correr para montar equipe

Por Lula MoraesPetrolina, PE
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Aos trancos e barrancos, o Petrolina deve entrar em campo para disputar o Campeonato Pernambucano 2013. Com três meses de salários atrasados, a equipe que defendeu o clube pela Série D do Brasileiro foi desmanchada, restando apenas o goleiro Diego e o meia Alan. Vai sobrar para a garotada da base, que há alguns meses teve a eletricidade do dormitório cortada por falta de pagamento à empresa geradora de energia.
petrolina greve (Foto: Lula Moraes / GloboEsporte.com)Jogadores do Petrolina fizeram greve para tentar receber salários (Foto: Lula Moraes / GloboEsporte.com)
Se não existe time, quase não houve treinamento por falta de técnico e de presidente. Os jogadores chegaram a fazer greve para definir a situação deles no Pernambucano e para receber os salários. De longe, foi o pior planejamento entre os concorrentes do estadual, mas o ex-auxiliar técnico e agora treinador Henrique Rocha assumiu a responsabilidade de formar uma equipe para o estadual em cima do término das inscrições, próxima quarta-feira.
- Queriam que eu assumisse a presidência, mas acho que não estava preparado para isso. Fui o auxiliar do técnico Pedro Manta em 2012, assumi quando ele seguiu para o Guarani de Juazeiro do Norte e naturalmente continuo no comando. Tivemos sorte que o primeiro turno não vale coisa alguma, pois evitará o nosso rebaixamento e dará tempo para nos preparar. Será o nosso laboratório para a formação da equipe - explicou Henrique Rocha.
Rocha estava cotado para ser o presidente depois que o mandato do então administrador do Petrolina, Carlos Benevides, terminou. Como não havia candidato para substituir Benevides, o cartola ficou à frente da Fera Sertaneja até o início da greve, na semana passada. Com Pedro Manta fora do clube devido a falta de pagamento, Henrique Rocha treinou o time em algumas partidas  da Série D e depois largou o grupo, já que não havia mais competição. Os jogadores e a comissão técnica ficaram sem informações e sem dinheiro.
Gilberto Feitosa Petrolina (Foto: Lula Moraes / GloboEsporte.com)Preparador físico pagou o conserto das bolas
furadas (Foto: Lula Moraes/GloboEsporte.com)
- Nosso time não é competitivo, não tem condições  de jogar de igual para igual com as equipes intermediárias do Pernambucano. Cuidamos da forma que podíamos para manter os jogadores treinando, mas a preparação foi precária. Nem temos bola em boas condições, pois das 12 que temos, oito estavam furadas. Tiramos do nosso bolso o conserto das bolas - disse o preparador físico Gilberto Feitosa, que acabou assumindo os trabalhos até Henrique Rocha ser definido como treinador.
Gilberto Feitosa encabeçou a greve junto com o preparador de goleiro Claiton Ribeiro. Além dos dois, um ropeiro foi o remanescente da comissão técnica que continuou os trabalhos da pré-temporada improvisada com os atletas.
- Ninguém aparecia para explicar a nossa situação. Carlos Benevides nos prometia o pagamento por telefone e não depositava. Chegamos a ir na câmara de vereadores de Petrolina, onde o ex-presidente também é servidor público, para cobrar e novamente nos enrolou com a promessa de pagamento. Espero que a nova direção, que está sendo definida, resolva logo essa situação para trabalharmos, senão não garanto que dê para jogar o Pernambucano. Como vão inscrever os atletas se não os pagam? - continuou Feitosa, sobre o prazo de inscrição.
A má administração de Benevides está sendo questionada por todos ligados ao clube. O prefeito da cidade, Júlio Lóssio, é quem está organizando a mudança de diretoria do Petrolina e a dúvida é por que os jogadores e comissão estão sem receber salários se a Fera Sertaneja ganhou todas as cotas de patrocínio que tem direito? Seja o direito de transmissão, a verba da Federação Pernambucana e R$ 300 mil reais da câmara de veradores. A situação chegou ao ponto do clube chegar a dever a alguns estabelecimentos da cidade, como o açougue que fornece carne aos jogadores, que acabou cortando o fornecimento para o Petrolina. Os atletas estão tendo que se virar para conseguir pagar as contas.
- Estou fazendo alguns bicos, mas a sorte é que meus pais estão me ajudando. Tenho a faculdade de educação física para pagar e um consórcio de uma moto para quitar, e tá difícil - revelou o meia Geovane.
Jamaica Petrolina (Foto: Lula Moraes / GloboEsporte.com)Zagueiro Jamaica vende espetinho para sustentar
filho de seis meses (Foto: Lula Moraes)
- A pessoa sonha em ser um grande jogador de futebol e não imagina uma situação desta. Tenho um filho para criar, que nasceu há seis meses, e voltei a trabalhar com o meu pai vendendo espetinho para poder criá-lo - frisou o zagueiro Jamaica.
Os jogadores mais jovens (Jamaica tem 20 e Geovane tem 26, por exemplo) estão sendo sustentados pelos pais, já os chefes de família foram embora para outros clubes. Depois da greve, o ex-presidente Carlos Benevides sumiu, não sendo mais encontrado, nem atendendo ligações de ninguém.
- Ele não atende mais o telefone, desapareceu.  Temos esperança que agora as coisas se acertem. Há 12 anos trabalho como preparador físico e nunca havia visto uma situação como essa. A minha sorte é que sou policial civil, senão estava passando dificuldade financeira. Fizemos o máximo para treinar esses atletas que sobraram. Além de ser um protesto contra a falta de pagamento, também entramos em greve para não termos um atleta machucado de graça e ele perder a chance de acertar com outro time. Imagine se no amistoso com o Desportiva de Juazeiro alguém se lesiona? Terminou a temporada. Não ia deixar essa irresponsabilidade acontecer - disse Feitosa.
Quero que os jogadores se esforcem e vamos reconquistar a confiança da cidade no clube. Mudaremos a imagem manchada do Petrolina"
Henrique Rocha
Se o sonho de ser famoso e bem sucedido no esporte não está dando certo, o jeito para alguns é procurar outras carreiras. O goleiro Diego está no segundo período do curso de direito para escapar de crises como essa.
- Não existe condições de ser um jogador profissional na cidade de Petrolina. Como pode um município ser referência na região do Sertão pernambucano, ter 300 mil habitantes e não conseguir manter um clube? Estou decidido a procurar outros clubes e por enquanto vou estudando direito para ter uma alternativa caso o futebol não dê certo. É o jeito, não queria terminar assim, em tribunais. Quero jogar - afirmou o camisa 1, que guarda o troféu do título da Série A2 de 2010 na sala da sua casa, já que o clube não tem lugar para deixar a taça.
Diego Walter Petrolina (Foto: Lula Moraes / GloboEsporte.com)Zagueiro Walter (de preto) está morando de favor
na casa do goleiro Diego (Foto: Lula Moraes)
Quem não é da cidade, está tendo que se virar com a ajuda dos companheiros. O zagueiro Walter, que passou pelo Petrolina em 2009, está morando na casa do goleiro Diego, pois sem ele não teria condições de pagar um hotel para ficar.
- Vim de São Paulo com a promessa de defender o Petrolina no Pernambucano, mas isso virou uma esculhambação. Ainda bem que tenho Diego para me ajudar, porque não sei o que seria de mim. Já paguei a minha passagem, não tenho dinheiro para me manter num aluguel ou hospedagem. Me sinto muito incomodado por estar na casa do colega.
Mesmo não tendo um time formado, com jogadores desestimulados e mal preparados, o novo técnico Henrique Rocha acredita no ressurgimento do clube durante o Pernambucano.
  
- Não tenho medo de colocar a cara. Se acontecerem resultados negativos e goleadas, o culpado sou eu, mais ninguém. Quero que os jogadores se esforcem e vamos reconquistar a confiança da cidade no clube. Mudaremos a imagem manchada do Petrolina.

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